Pulso pelo novo!

"Há tensão e paixão que caracterizam aqueles que arriscam deslocar-se para lugares desconhecidos, desafiam verdades prontas, movem-se em busca de conhecimentos novos, viajam pelo conhecimento. Aquele que pretende apenas em certa medida alcançar a liberdade da razão, não tem durante muito tempo o direito de se sentir sobre a terra, senão como um viajante – e nem sequer como um viajante que se encaminhe para um ponto de chegada; pois este não existe. Terá em vista, isso sim, observar bem e manter os olhos abertos para tudo o que realmente se passa no mundo; [...] é necessário que nele haja sempre algo de viajante, cujo prazer reside na mudança e na passagem".
Friedrich Nietzsche

De que verdade falamos?

A porta da verdade estava aberta,Mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em metades diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era totalmente bela. E carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua mio
Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Meu memorial de leitura


Construindo conhecimentos...

Meus primeiros passos como profissional de educação deram-se ainda no Ensino Médio, no curso do Magistério. Lá estive como regente de classe pela primeira vez, ainda na condição de estagiária, com uma turma de alunos, planos de aulas, algumas expectativas e muitos receios.
Desde então, minha trajetória profissional tem estado vinculada durante os últimos 25 anos à área de educação, mais especificamente ao estudo da nossa língua. Concluí minha graduação em Letras, com habilitação em Língua Inglesa e Literaturas Brasileira e Portuguesa e, como reflexo da formação recebida até então, minha atuação como professora de Língua Portuguesa configurava-se extremamente tradicional. Nesse período, ao conhecer as idéias de Paulo Freire surgiram meus primeiros questionamentos sobre minha práxis pedagógica e os objetivos da educação.
No eixo da proposta de ação-reflexão-ação, o conceito de conhecimento deixou de ser algo possuído, de forma pontual e fragmentada, para ser construído, de forma processual e contextualizada. Surgiram, então, novas palavras chaves no meu caminhar como investigar, ressignificar, inovar e dinamizar.
Efetivou-se em mim a concepção de que, como educadora, torna-se premente a necessidade de constantes perguntas sobre nosso trabalho, nosso papel e nossa responsabilidade de abrir o campo social e do político para produtividade e a polissemia, para a multiplicidade de mundividências.
Era preciso conhecer mais, experienciar outros saberes e assim o fiz. Minha primeira especialização no Curso de Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa constituiu-se a partir de questionamentos sobre concepções de língua e o ensino da gramática, conduzindo-me a pesquisar sobre o tema “A tipologia gramatical e a elaboração de modelos cognitivos no desenvolvimento, produção e compreensão da linguagem”.
Trilhando esse caminho, passei a atuar no ensino noturno, na Educação de Jovens e Adultos. Novos desafios, experiências novas que pediram estratégias diferenciadas. Mas um marco na minha construção de conceitos de língua e de seus objetivos.
Segundo os PCN’s de Língua Portuguesa, um dos objetivos do ensino da Língua Portuguesa é expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-la com eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra e produzir textos — tanto orais como escritos — coerentes, coesos, adequados a seus destinatários, aos objetivos a que se propõem e aos assuntos tratados.
.Como, pois, constituir minha prática de forma que viabilizasse o processo do “assumir a palavra”? Essa é uma idéia que implica no posicionamento do sujeito que se auto-interroga e se compreende como sujeito de sua própria história. Evidencia-se, então, a necessidade de o ensino da língua capacitá-lo a se tornar um formulador de novos caminhos, reinventando novos modos de transformação social onde atua, onde vive.
Iniciei, dessa forma, novo processo de pesquisa. Dessa vez com o tema “Ensino de Língua Portuguesa na EJA: critérios de seleção de textos em sua articulação com o letramento”. Nesse período, atuava como formadora do programa GESTAR II- Gestão em Aprendizagem Escolar, onde aprofundei estudos sobre gêneros textuais e letramento, o que muito motivou essa pesquisa.
Minhas turmas de EJA eram laboratórios das descobertas e ressignificações efetivadas no GESTAR II. Lá experienciei concepções teórico-metodológicas, enquanto formadora do programa, oportunizando-me a articulação de um processo de formação-ação-investigação-ação.
Acreditando que “cada um de nós constrói a sua história e cada um carrega em si o dom de ser capaz e ser feliz”, eu, a professora formadora ou a formadora professora, sem esquivar-me da experimentação e apropriação de novos saberes e de novos sabores, continuo buscando possibilidades, tanto para minha vida acadêmica, como para todos que a permeiam.
Assim, concluo o presente memorial, utilizando a letra de uma música de Ivan Lins que traduz bem todo esse percurso que ainda se constrói em mim.

Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo me deu certeza
Daquilo que eu sei
Nem tudo foi proibido
Nem tudo me foi possível
Nem tudo me foi concedido
Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei.
Ah! Eu usei todos os sentidosS
ó não lavei as mãos
E é por isso que eu me sinto
Cada vez mais limpoLimpo...(Ivan Lins)